Nesta quarta postagem da série Clássicos, o assunto é o uso oracular do Clássico das Mutações (Yìjīng 易經). Dentre os vários métodos para consulta (utilizando varetas, moedas, pedras preciosas ou cartas), o oráculo tradicional das três moedas é bastante popular por combinar praticidade e profundidade, além de ter sido divulgado de forma acessível em várias das traduções do clássico para línguas ocidentais. Como opera o oráculo? Com uma pergunta clara e sucinta, que permita uma resposta mais elaborada que sim ou não, é possível obter do oráculo uma descrição da situação e orientações para lidar com um desafio em particular. As três moedas são lançadas seis vezes, uma vez para cada linha que, calculada de baixo para cima, forma um hexagrama. Caso haja dentre elas linhas móveis, forma-se também o “hexagrama futuro”. E consulta-se os textos correspondentes.
No célebre prefácio de C.G. Jung à tradução do clássico para o alemão por Richard Wilhelm, o psicólogo suíço utiliza o seu argumento sobre a sincronicidade para explicar o funcionamento do oráculo. Haveria uma coincidência significativa entre uma situação do mundo e o símbolo apresentado, expressão do insconsciente coletivo. Essa relação seria de natureza acausal, mas coerente. Obviamente, essa é uma explicação de tipo psicológico para um fenômeno atestado em inúmeras civilizações. E permite entender a lógica de diversos oráculos, não somente do Yìjīng. O propósito adequado de um oráculo é dar inteligibilidade a situações desafiadoras. Não substitui nem o discernimento nem a responsabilidade pessoal de quem o consulta, mas oferece elementos para contemplar intuitivamente um dilema antes de tomar uma decisão e agir.
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