Em contato com a natureza

Na postagem de hoje, o assunto é o valor do contato com a natureza. Para a tradição taoista esse é um tema ambíguo. Primeiro, o ser humano não é está isolado do mundo natural, nem o mundo humano é o oposto do mundo natural. Nossos corpos são constantemente atravessados pelo do Céu e da Terra, simplesmente porque respiramos, comemos e habitamos uma determinada paisagem. Fazemos parte do mundo, inevitavelmente. Essa condição oferece riscos e oportunidades: se compreendemos os ciclos da natureza, podemos nos beneficiar deles; se não os compreendemos a natureza é implacável e indiferente. Por isso, o poema 5 do Dàodéjīng (道德經) diz: “O Céu e a terra não são bondosos/ Tratam os dez mil seres como cães de palha”. A tradição oral também diz: “o Céu tem 6 ladrões” (que roubam nosso e, consequentemente, nossa saúde). Possivelmente isso se refere aos 6 fatores patogênicos externos descritos pela medicina chinesa: Vento, Calor, Frio, Umidade, Secura e Calor de Verão. Resumindo, as condições ambientais a que nossos corpos são expostos, no caso climáticas, podem ser motivo de adoecimento, especialmente quando são extremas ou quando nossos corpos já estão debilitados.

Imortais caminhando sobre as águas, detalhe de pintura do acervo temporário do National Palace Museum, Taipei. Foto do autor, setembro de 2018.

Por outro lado, uma particularidade do ser humano é , literalmente, situar-se entre o Céu e a Terra. O eixo vertical de nossa postura alinha nossa cabeça com o Céu e os pés com a Terra. Existe o potencial para a realizar um Tàijí no nosso centro de gravidade, a união do qì celeste e terrestre no ser humano. Esse potencial é encarnado na figura lendária dos imortais, retratados na pintura acima e objeto de uma postagem anterior. Na transmissão do mestre Pailin, como tive a oportunidade de ouvir diretamente do dele, o potencial humano para interagir com o qì da natureza de forma mais consciente, por meio da prática do qìgōng (氣功,炁功), está relacionado ao seu incrível cérebro e suas mãos maravilhosas.

Conhecendo os segredos da prática, podemos nos conectar a fontes naturais de puro e abundante, para suprir a nossa vida e eliminar o turvo, patogênico que se acumula no corpo, como resultado da poluição e outras toxinas presentes no ar, na água e nos alimentos, mas também acumulado em função de nossos próprios desequilíbrios emocionais cotidianos. Daí, a recomendação de treinar diariamente, em um local com ar puro, árvores, luz solar, água abundante, de preferência nos horários yáng (mais precisamente da madrugada até, no máximo as 11 horas da manhã).

Pratique ao ar livre em condições climáticas favoráveis, ou em um ambiente protegido mas ventilado, em outras circunstâncias. E, se vive em uma grande cidade, escape de vez em quando da poluição e da agitação, visitando um local com uma bela paisagem natural, silêncio e de boa qualidade. Desde a antiguidade, praticantes taoistas buscaram a quietude de montanhas e florestas para praticar o cultivo. As circunstâncias históricas mudaram muito, mas ainda é sábio fazer o mesmo, se desejamos aprofundar nossa prática.

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