As postagens desse mês serão focadas na temática do corpo. Uma característica marcante da tradição taoista é justamente que a espiritualidade não se opõe à corporeidade. Mais precisamente, o corpo vivido é a base do caminho. Em primeiro lugar, contrastando com a ideia de corpo-coisa descrito como “máquina maravilhosa”, fundante para a medicina e as ciências da vida na civilização ocidental, o corpo taoista é um “pequeno universo”. Essa afirmação tem um sentido preciso, que combina a teoria dos cinco movimentos constitutiva da medicina tradicional chinesa desde o Huangdi Neijing, e a filosofia yin/yang apresentada em clássicos como o Daodejing e o Yijing. O corpo humano é formado pelas mesmas potências que compõem e permeiam o mundo natural. Essa afirmação ampla não seria questionada pela ciência ocidental moderna, para a qual é evidente que a matéria animada e inanimada tem a mesma origem e componentes básicos. No entanto, no caso do corpo taoista, a conotação é um pouco distinta. As conexões e semelhanças entre o corpo humano e os fenômenos naturais são também da ordem de correspondências e ressonâncias, não só de componentes básicos comuns a eles. órgãos, vísceras, tecidos e fluidos do corpo humano correspondem aos mesmos cinco movimentos (wuxing) – fogo, água, terra, metal e árvore – que formam a paisagem natural. Além disso, determinados centros sutis ressoam com o mesmo qì que permeia a Terra e o Céu. Esse entendimento é o pano de fundo para o treinamento taoista, como cultivo do que é natural e retorno à natureza.