Nessa segunda postagem da série O Corpo Taoista, desenvolvo o ponto anterior. O corpo, como pequeno universo, possui uma paisagem interna que, como objeto de contemplação meditativa, pode ser descrito como “país interior”. Esse entendimento justifica a leitura dos conselhos para o bom governo no 3º poema do Daodejing (道德經) como governo de si:
A pessoa sagrada governa Esvazia seu coração Enche seu ventre Enfraquece suas vontades Robustece seus ossos
O coração é a sede do shén (神): tem o sentido amplo de mente, ao mesmo tempo pensamento e emoção. O ventre, a barriga, remete ao centro do corpo, a região em torno do umbigo, a raiz ou origem fetal (胎元). Vontades aqui são desejos. Robustecer os ossos é um dos efeitos do cultivo da vida (命功). Assim a pessoa sábia cultiva a serenidade do coração, a plenitude do qì e a simplicidade no modo de vida. E vivendo assim obtém a combinação de longevidade e serenidade.
Mas o país interior pode ter ainda conotações mais literais: composto de mar, campos, bosques e montanhas, por palácios nos quais estão divindades que habitam os órgãos e regem a saúde, como no célebre diagrama do Neijingtu, abaixo.