A primavera chegou, trazendo o impulso de renovação do elemento Madeira. Começamos um novo ciclo, aproveitando o movimento do Qì na natureza. E para comemorar, na semana de 4 a 8 de outubro, teremos aulas abertas gratuitas em todas as nossas turmas regulares. Veja o calendário acima e inscreva-se nas aulas de seu interesse na página de aulas no nosso site!
Para as aulas online, enviaremos às pessoas inscritas um link para o encontro virtual no Zoom.
Para as aulas presenciais, estaremos ao ar livre, no Espaço Mandala do Parque Olhos d’Água, mas seguiremos todas as medidas de segurança habituais: uso obrigatório de máscara e distanciamento social. Traga sua própria garrafa de água e frasco de álcool 70. Por favor, faça sua inscrição para estabelecermos um canal de comunicação eficaz, em caso de algum imprevisto, como chuva.
Vida é movimento, praticar o Tao é aprender a se adaptar às circunstâncias. Em tempos de mudança e incerteza, é nossa estabilidade interna que nos permite fazer silêncio para estar sensível aos acontecimentos e nos posicionar de forma harmônica. Após tantas postagens sobre o mundo contemporâneo, surgiu a necessidade de adaptar, mais uma vez, as possibilidades de compartilhar os conhecimentos taoistas.
Em tempos de recomendações de isolamento social, pânico coletivo diante de uma pandemia global, ansiedade, incerteza e solidão, nada como o antídoto da meditação. Ela acalma o coração e recarrega nossas energias dispersas. Com coração sereno e vitalidade plena, é mais fácil ser compatível, ter empatia e cuidado.
Atendendo à sugestão do público interessado, além das aulas e cursos presenciais, agora teremos também aulas e cursos online. Isso permitirá tornar os conhecimentos taoistas acessíveis a um público de outras cidades. Nosso primeiro projeto, dentro dessa iniciativa, é o curso online de introdução à meditação taoista. Os conteúdos serão basicamente os mesmos do curso presencial, apenas em um outro formato. Para inscrever-se basta clicar nesse link.
O desafio nos cursos e aulas online édisponibilizar material adequado à/ao praticante contemporânea/o. E, ao mesmo tempo, respeitar a profundidade da transmissão oral tradicional.
Durante todo o período da pandemia, teremos também aulas online regulares de práticas taoistas: Daoyin, qigong e meditação.
Se quiser participar, preencha o formulário de inscrição abaixo:
O fundamento taoista do pensamento chinês que é a base da medicina tradicional e do qìgōng de longevidade é uma filosofia do movimento, da mudança. Como compreensão da vida, e aqui se incluem tanto concepções de natureza como de corpo humano, o conceito de qì é central. Mas, afinal, o que é qì?
detalhe de pintura do acervo temporário do National Palace Museum, Taipei, foto do autor em setembro de 2018.
Uma maneira prática de tratar o assunto é entender o qì como uma linguagem dos antigos chineses para descrever as qualidades de diferentes fenômenos naturais: um organismo vivo, uma paisagem, um fenômeno climático, um alimento ou planta medicinal, inclusive um corpo humano, uma pessoa, sua condição de saúde ou doença, etc. Não se trata de algo no campo da crença. Não é preciso “acreditar em qì” como se fosse algum tipo de entidade metafísica. Embora esse conceito remeta ao aspecto invisível dos fenômenos naturais, que move ou anima, o qì se percebe com os sentidos, é algo que se sente, como qualquer artista marcial, praticante de qìgōng, especialista em fēngshuǐ ou acupunturista pode atestar. De fato, aprender qualquer um desses conhecimentos tradicionais chineses é familiarizar-se na prática com isso.
O pictograma qì em estilo caligráfico.
O caractere mais frequentemente utilizado para representar qì (氣), deriva historicamente do caractere vento (風), o que levou alguns estudiosos, especialmente da escola francesa, a descrever o qì como sopro. Em sua estrutura, é formado pelos caracteres para vapor e arroz, conotando um aspecto sutil do ar e dos alimentos. Há também outro caractere para qì (炁) que consta dos talismãs taoistas e que, segundo a explicação do mestre Pailin, remete ao aspecto yáng de luminosidade e calor: fogo do Céu. Em geral, o conceito de qì tem sido traduzido para línguas ocidentais como “energia”, “vitalidade” ou “força vital”, inclusive em traduções conceituadas de textos clássicos chineses, manuais de medicina tradicional e na transmissão oral de muitos mestres chineses.
Especialistas dos Estudos Chineses, como a francesa Elizabeth Rochat de la Valée ou o brasileiro Orley Dulcetti Júnior, apontam que qì se refere à capacidade de movimento e transformação. Ou seja, é a chave para entender todos os fenômenos naturais da perspectiva chinesa. Apesar de muito usados, termos como energia, vitalidade e força vital são alheios ao pensamento chinês antigo. Derivam de tendências do pensamento científico e filosófico europeu e foram utilizados desde as primeiras traduções dos clássicos chineses para línguas ocidentais, ainda no século XVIII. Esses termos podem ser úteis por serem familiares, mas trazem consigo armadilhas, pois nos levam para o terreno da crença ou da tentativa de demonstração da existência objetiva de uma força ou substância, às vezes até apelando para uma confirmação por parte da ciência experimental ocidental.
Mestre Liu Pailin era bastante taxativo ao afirmar que os métodos taoistas que ensinava era baseados em um conhecimento da natureza, a essência da civilização chinesa, sem uma conotação mística ou religiosa. Desde a perspectiva da tradição taoista, uma boa maneira de compreender o que é qì é pela experiência pessoal com os treinamentos de qìgōng,tàijíquán, dǎoyǐn, meditação, etc. Praticando, desenvolvemos uma nova sensibilidade corporal e aprendemos a perceber o qì por meio de certas sensações descritas pela tradição (frio, calor, peso, formigamento, corrente elétrica, fluxo, vibração) que surgem espontaneamente durante os treinamentos. Além disso, os estudos de antropologia dos sentidos e antropologia da corporeidade podem ser ferramentas úteis para entender esses fenômenos e nos familiarizar com esse importante conceito chinês.